"Um futuro melhor requer pessoas capazes de usar não apenas todas as partes do cérebro mas também o coração" ¨Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ○° ¨ Pierre Lévy

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Educação escolar e o discurso midiático.

O discurso sobre a aprendizagem não é algo recente, pois sempre permeou os diálogos humanos desde que o ser humano necessitou conhecer o mundo como algo indispensável para a sua existência. “O conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital” (MORIN, 2002, p. 35). O homem precisou inicialmente conhecer o mundo, assim como este se apresenta, para poder entender os períodos de estiagem, as épocas de chuvas, o que dele poderia aproveitar para a sua alimentação, entre outros conhecimentos igualmente importantes para a sua sobrevivência.

Hoje, a questão do conhecimento e, portanto, da aprendizagem, surge com base em novos discursos: “É o problema universal de todo cidadão do novo milênio: como ter acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las? Como perceber e conceber o Contexto, o Global (a relação todo/partes), o Multidimensional, o Complexo? Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo... (MORIN, 2003, p. 35).

Sob esse aspecto, emerge na atualidade a necessidade de se repensar a aprendizagem, de modo que ela favoreça a construção de novos conhecimentos para a compreensão da complexidade do mundo e, assim, de seus problemas, na busca de saídas viáveis.

Aproximando este contexto para a escola e um dos desafios enfrentados por esta, o poder da mídia frente à educação das crianças e jovens, é inegável a força que os meios audiovisuais exercem sobre estes.

A televisão aparece como um dos principais meios de influência sobre o comportamento e aprendizado, com suas narrativas muitas vezes contraditórias; com valores éticos e morais muitas vezes distorcidos; com suas propagandas mostrando que sem determinado produto a vida deste jovem ou desta criança não seria a mesma. O poder de sedução de seu conteúdo é muito grande. Faz-se necessário, que a escola observe o que está acontecendo nos meios de comunicação e mostrá-lo na sala de aula, discutindo-o com os educandos, ajudando-os a perceber o lado positivo e negativo das abordagens sobre cada assunto.

A televisão, o rádio, o CD-ROM, celular, a internet, são tecnologias, contudo, que trazem informações ou viabilizam-nas, construindo pontes entre a sala de aula e o mundo. Elas trazem uma representação da realidade de uma forma mais dinâmica e atrativa, permitindo ao indivíduo, portanto, ao educando, desenvolver novas habilidades, atitudes e competências. A maneira como ele processará todas as informações recebidas está na mediação do professor, no momento que busca desenvolver-lhe um sentido crítico e um comportamento mais ativo frente às novas formas do saber (Bonilla, 2005).

Quando o professor aproxima-se das tecnologias e as compreendem como pontes entre a sala de aula e o mundo, dentro de uma relação entre o todo e as partes ou o Contexto e o Global, como nos apresenta Morin (2003), ele terá a seu favor grandes instrumentos para mostrar a seu educando um mesmo objeto sobre vários ângulos, vários meios e situações concretas e abstratas, permitindo-lhes exercitar uma atitude apreciativa e de produção de novos conhecimentos mais significativos para a sua vida. Ou “como elemento estruturante carregado de conteúdo e possibilitador de uma nova forma de ser, de pensar e agir” (Pretto, 1996).

A escola mais inteirada dos problemas que afetam as crianças e jovens, atenta as suas situações na comunidade, entenderá que estes meios de comunicação e informação trazem abordagens do quotidiano, conhecimentos do que ocorrem na comunidade e ao mesmo tempo no mundo. Por isso, incorporar as novas linguagens tecnológicas e midiáticas favorecerá a escola criar uma linguagem mais próxima de seus educandos, permitindo-a exercer seu papel fundamental, que é formar cidadãos mais atuantes e atentos aos problemas da civilização.

Neste momento a instituição escolar ganha uma nova conotação, que é educar indivíduos para a comunicação e informação. É prepará-los para problematizar os dados recebidos pela mídia, sintetizá-los, refleti-los, compreendê-los e compartilhar suas conclusões ou novas informações com a coletividade. É na troca destes dados que a sociedade pode ver-se em grandes redes de informação, tendo na internet seu melhor exemplo de agilidade e organização (Castells, 1999).

O professor nesta nova realidade, segundo Tapscott (2010), necessita rever seus antigos métodos e repensar seu papel na sala de aula. Ele já não pode imaginar-se como o dono do saber que será repassado ao educando, mas aquele motivador do conhecimento, como aquele capaz de levar o educando a “aprender a aprender”.

A educação não ocorre apenas na escola, dita formal, mas também na família, na igreja e tantos outros espaços, passando a chamar nestes de educação informal. Fazer a relação entre estes vários espaços é a chave para motivar os educandos, ampliar e enriquecer o trabalho pedagógico, fazer compreender a sua importância através da adoção de uma linguagem mais dinâmica e articulada com as novas expressões e complexidade do mundo. Para Lévy (1999) não há mais fronteiras entre o conhecimento e as pessoas. Elas buscam se unir em comunidades virtuais, conectadas pelos mesmos interesses e, ao mesmo tempo, cooperando e trocando informações, conhecimentos, experiências...

Como utilizar esta chave abrindo a porta para a construção do conhecimento? Entendendo que a educação não se processa de forma isolada, mas numa relação ao mesmo tempo individual e coletiva, ou na troca de informações entre cada indivíduo na sociedade, na busca por novas sínteses, novos conceitos, novas perspectivas, novos saberes.

Referências:

BONILLA, Maria Helena. Escola aprendente: para além da sociedade da informação. Rio de Janeiro: Quartet, 2005.

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do futuro. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: Unesco, 2003.

PRETTO, Nelson De Luca. Uma escola sem/com futuro: educação e multimídia, Campinas, São Paulo: Ed. Papirus, 1996.

TAPSCOTT, Don. Repensando a Educação: Os estudantes da geração Internet. In. TAPSCOTT, Don. A Hora da Geração Digital: como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. Trad. Marcelo Lino. Rio de Janeiro: Agir Negócios, cap 5, 2010.

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