"Um futuro melhor requer pessoas capazes de usar não apenas todas as partes do cérebro mas também o coração" ¨Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ○° ¨ Pierre Lévy

sábado, 26 de junho de 2010

Veja como as grades curriculares são formadas

Mercado, novas tecnologias e até estudantes influenciam mudanças



Aulas chatas, aulas legais, aquelas que se desconfia no primeiro momento e as que empolgam de cara. Essas impressões podem variar na cabeça dos universitários. Alguns chegam a se questionar a respeito da real relevância de certas disciplinas. O que talvez poucos universitários saibam é como a grade curricular de seus cursos são construídas.

A tarefa inclui muita pesquisa acadêmica e de mercado, além do cumprimento de normas e diretrizes previamente estabelecidas para que a grade do curso possa atender às muitas necessidades que os futuros profissionais precisarão atender para garantir uma formação completa, tanto do ponto de vista profissional, quanto cultural e humanista, nas diversas áreas do conhecimento. E até os alunos devem se envolver nesse processo.

Quem fica responsável por guiar as instituições nessa tarefa até a aprovação do curso superior é o MEC (Ministério da Educação). Para isso, foram criados Pareceres e Resoluções que dizem respeito a cada curso universitário. Dentro dessas orientações, as universidades precisam estar atentas aos princípios norteadores para formação profissional, carga horária do curso, disciplinas teóricas e práticas, tabela com as aulas além de muitos outros tópicos que estruturarão todo o curso.

Segundo a Professora Gisele Gusmão, assessora da pró-reitoria de graduação da UFG (Universidade Federal de Goiás), participam desse processo professores da área em construção e até consultores externos. "Em primeiro lugar a unidade acadêmica faz todo o projeto pedagógico e espera a aprovação do conselho acadêmico", explica Gisele. Depois disso ele segue para a pró-reitoria de graduação, onde será analisado. Em seguida, a proposta vai para a Câmara de Graduação para finalmente seguir rumo ao CEPEC (Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura), lugar onde o projeto será novamente analisado, discutido e então aprovado.

Para Gisele, todo esse longo processo é de suma importância, pois determinará a qualidade do curso, algo que está diretamente ligado ao nome e à tradição da universidade. "É a partir desse projeto que um curso de qualidade nascerá", explica ela, que também acredita que apenas a orientação de corpo docente e especialistas não é o suficiente para a construção de uma grade curricular que abranja todos os semestres do curso.

Para completar essa equação, é preciso saber quais são as demandas de mercado e o que os alunos esperam dele. "A evolução do mercado cria novos cursos e altera antigos, isso é comum e necessário para a evolução de um ensino de qualidade. E quando esse tipo de mudança se aproxima, o movimento estudantil deve estar presente para sugerir, criticar e apoiar a universidade", sugere ela.

Participação conjunta

Um exemplo de como a cooperação conjunta dos diferentes atores envolvidos na construção e evolução de uma graduação pode ser verificada em Engenharia. De acordo com especificações do MEC datada de abril de 2002, os alunos dos cursos de Engenharia devem, ao longo do curso, ter a capacidade de projetar e conduzir experimentos, interpretar resultados, identificar e resolver problemas de engenharia, compreender e aplicar a ética e a responsabilidade profissional, além de estar atentos aos impactos sociais e econômicos de seus projetos.

Segundo as diretrizes, tudo isso é necessário porque ajudará o aluno a desenvolver posturas de cooperação, comunicação e liderança. Ou seja, a participação discente funciona até como parte do processo de formação. Esses últimos aspectos, na opinião de Paulo Barone, vice-presidente do CNE (Conselho Nacional de Educação), são pontos chave para a formação de alunos de qualquer tipo de curso, algo que ele crê dever ser prioridade das universidades.

"As instituições devem se manter no caminho que conduzirá os alunos ao mercado de trabalho" diz Barone. Para ele, as instituições ainda se prendem muito aos avanços que rodeiam seus cursos e, assim, deixam de criar um senso crítico nos estudantes. "Eles deveriam estar preocupados em mostrar quais foram os aspectos que levaram a profissão até aquele ponto, ao invés disso preferem iludir os alunos com uma infraestrutura que limitará seu poder de atuação depois que ele se formar", critica ele.

Para Barone, parte desse suposto movimento de algumas universidades residiria no fato de que as instituições ainda se prenderiam muito às especificações do MEC, ao invés de ir além do mínimo e criar condições reais de aprendizado de qualidade. "O universitário deve ser educado e treinado para o mercado de trabalho. As universidades deveriam se ater à criação de líderes competentes e isso só vai acontecer quando elas se soltarem das amarras e entrarem em processo de evolução", acrescenta ele.

Por outro lado, Robert Burnett, pró-reitor Acadêmico da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), faz uma ressalva ao raciocínio de Barone e acha que a confecção de uma grade curricular pode ser comparada com a preparação de um bolo. "Embora exista a mesma receita para todos, cada universidade é livre para acrescentar aspectos que demonstrem que tipo de características a instituição possui e que tipo de formação ela pretende oferecer", explica ele.

Burnett acrescenta que na hora de incrementar a grade alguns cuidados devem ser tomados. No curso de Engenharia, por exemplo, os avanços da área nunca poderão deturpar o objetivo de cada disciplina. "Esse profissional deve ser engenheiro hoje e daqui a vinte anos. Mesmo que os métodos de ensino se alterem, a matéria que ensina a construir uma casa hoje deverá fazer o mesmo no futuro independente do que os avanços tragam para a sala de aula", diz.

Universidades como a PUC-PR contam com a análise do NDE (Núcleo Docente Estruturante) para buscar por falhas e alterações nas grades de seus cursos. "É uma maneira de analisar constantemente o curso em parceria com o que está sendo feito em outros lugares", explica Burnett. Nesse momento, de acordo com ele, os alunos, devem ajudar na tarefa de melhorar o curso, uma vez que estão inseridos em todos os níveis do da graduação.

"É preciso demandar e se interessar pela disciplina", defende ele, que vê nessa atitude uma maneira de manter os professores alertas quanto aos acontecimentos. "Além de mostrar que ele já está no caminho certo para se tornar um profissional preocupado com sua carreira, ele também eleva o nível do professor, que passará a procurar por mudanças que ajudem a classe", diz o pró-reitor.

O principal, sob o ponto de vista de Claudio Cavalcante de Oliveira, chefe da divisão de colegiado de curso de graduação da UEL (Universidade Estadual de Londrina) está no fato de que as grades devem sempre ser pensadas com o intuito de uma formação ampla que não se prenda ao tempo presente, ou seja, de apenas tratar da formação como algo fechado para o tempo em que o curso ocorrerá. "Um profissional formado hoje, deve ter a mesma capacidade de um que se graduou na década de 70, uma vez que esse é o principal objetivo dos cursos universitários, formar", defende Oliveira.

Fonte: http://www.universia.com.br/universitario/materia.jsp?materia=19846

Publicado originalmente em 23/06/2010 - 14:45

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